Resenha | Vox #01 - Christina Dalcher

Vox - Livro 01 || Vox #01 || Distopia , Ficção , Feminismo || Christina Dalcher || 320 || 2016 || Arqueiro 

Sinopse:
Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina.
O SILÊNCIO PODE SER ENSURDECEDOR #100PALAVRAS
O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo...
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
...mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.


O que me chamou a atenção para leitura de Vox de primeira foi a chamada... Jesus, o que mais faço na vida é falar, eu não viveria com apenas 100 palavras diárias, queria saber como isso acontecia e como isso acabava!!!

Minha culpa começou há duas décadas, na primeira vez em que não votei, nas vezes incontáveis em que disse a Jackie que estava ocupada demais para ir a uma de suas passeatas, fazer cartazes ou ligar para meus congressistas.

O ano é o futuro, o acontecimento? Um pouco do passado misturado com o presente e a tecnologia do futuro. Em Vox vamos conhecer a Dra Jean McClellan, uma neurocientista que vê seu mundo afundar quando novas leis são implementadas nos EUA. Nada aconteceu de uma hora para outra, mas quando as ideias se iniciaram, Jean estava ocupada estudando, não tinha tempo para ir pras ruas se manifestar, e aos poucos as mulheres foram perdendo seus direitos e sendo silenciadas, ela junto.

O Presidente possui uma ideia conservadora e unido a igreja elas trazem de volta o século XIII aos dias atuais, mulheres não trabalham mais, são donas do lar, puras, silenciosas e educadas!!! O silêncio vem através de uma pulseira que conta as palavras, a partir da 101ª, choques são liberados para silenciá-las! As pulseiras são entregues logo ao nascer, assim as meninas já são treinadas para serem silenciosas. As escolas são separadas e enquanto os garotos aprendem matemática e uma profissão, as mulheres cozinham, costuram e fazem cálculos básicos.

A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada.

Até que algo extraordinário acontece, o irmão do presidente sofre um aneurisma (ou um derrame), e Jean é chamada para ajudar, afinal sua pesquisa lidava com isso e ela era a melhor, como acordo sua pulseira e de sua filha serão retiradas, a médica vê nessa oportunidade a chance de lutar pelas palavras e assim ela faz.

Claro que não é só Jean, toda regra cria uma resistência, e essa tem a sua, Jean logo descobre o grupo e entende que tem ajuda, que pode mais, só precisa descobrir como.

O enredo criado por Christina é baseado é inspirado em O conto da Aia, clássico que mexeu com vários leitores e que está na minha lista de leitura. O enredo apesar de fictício é pesado, atinge mulheres de todas as formas, ser levada ao passado e restringida a nada a essa altura do campeonato nos faz refletir sobre onde queremos estar amanhã. O livro não é apenas para mulheres, mas com certeza vai mexer muito com o público feminino. Acompanhar a narrativa de Jean é desesperador e claustrofóbico, se colocar na pele da personagem é o que faz a história se tornar única é brilhante. 


Mas apesar de tudo isso, tenho minhas ressalvas, a história foi magnífica até quase o final, e apesar de ter tido um começo lento, ainda sim os acontecimentos e narrativa são instigantes e mantêm o leitor preso, mas quase no fim a coisa correu e tudo se resolveu um pouco rápido demais! A obra faz parte de uma série, o que me deixou um pouco mais conformada e ansiosa pela continuação. Pode ser que mais coisas aconteçam nos próximos livros que justifiquem o fim desse.

Os personagens foram muito bem elaborados e desenvolvidos, e apesar de se manter fora de foco no enredo, Jackie a amiga da Dra têm um papel primordial na trama, já que em grande parte a Dra. fica se recortando de como  ela era ou o que dizia na época da escola. Jackie é aquela amiga feminista que todo mundo tem, que vê o mundo despencando, avisa que tá tudo atolando, mas a gente acha que ela é louca demais para dar atenção. Reconhece alguém? Além do marido dela que é um banana e de um dos filhos que se torna um asqueroso cordeiro de Deus na obra.


Eles não vão nos matar pelo mesmo motivo que não autorizam abortos. Nós nos transformamos em males necessários, objetos para ser fodidos e não ouvidos.

Vox é um livro pesado e desafiador, a história mexe com o psicológico, nos faz imaginar e se fôssemos nós, e nos colocar no corpo da personagem, o livro é uma junção do ontem, hoje e amanhã, e refletir sobre nossa ação no mundo, o que estamos fazendo para alterá-lo de forma positiva, como estamos exercendo nossos direitos e usando nossas palavras é a ferramenta principal de tortura do livro. O que você fez ou faz pela sua liberdade? Como lida com ela e como a aproveita?

Leia Vox e entenda que as coisas não estão tão protegidas a ponto de nunca poderem ser eliminadas. O homem tem poder suficiente para destruir tudo e qualquer coisa.

Apesar de ter continuação, ainda não há capa ou previsão para lançamento dos mesmos. 


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