Kindred - Laços de Sangue || Octávia E. Butler

Kindred - Laços de Sangue || Sci-fi , Ficção Cientifica || Octavia E. Butler || 2017 || 432 || Morro Branco 

Sinopse:
Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça.
Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida... até acontecer de novo. E de novo.


Dana está completando 26 anos e organizando sua mudança na nova casa quando é transportada pela primeira vez, ali em meio a caixas de livros antigos ela passa mal, desmaia e acorda à beira de um riacho onde um garoto se afoga. Lavada por seu senso de dever ela se joga no riacho e salva o menino, mas ao sair com ele da água dá de cara com uma espingarda apontada para sua cabeça, o pai do menino acredita que Dana estava lhe fazendo mal, a tontura volta e de repente Dana está de volta a sua sala. Loucura? Até poderia ser se ela não tivesse reaparecido do outro lado da sala toda molhada e cheia de lama.

Essa é a primeira de muitas viagens que Dana fará no decorrer do livro, mas o problema maior em toda essa história é: Dana é uma mulher negra que viaja para o século XVIII a época estopim da escravidão, onde ser negra é sinônimo de dor e sofrimento.

Com o passar das viagens Dana vai criando intimidade com as pessoas e juntando as peças da sua história tentando descobrir o porquê das viagens e qual a ligação daquela época com a sua vida, até que ela percebe que sempre que Rufus está em perigo, ela é arrastada ao passado para salvá-lo. Rufus é seu tataravô, mas quando Dana chega a história ainda não foi concretizada e sua árvore genealógica nem começou a ser desenvolvida, ou seja, talvez sua missão seja manter seus parentes vivos e garantir as próximas gerações, e isso será o que ela fará com afinco, mesmo exposta a tanta dor e crueldade.


Não sabia que as pessoas podiam ser condicionadas com tanta facilidade a aceitarem a escravidão.


Kindred foi publicado pela primeira vez em 1979, e para a época em que foi escrito o livro é completo e promissor. Octvia debate com frieza e sinceridade pontos importantes da escravidão e do preconceito. Com um enredo pesado e de difícil ingestão a autora nos faz refletir sobre a escravatura e a situação do homem negro naquela e nessa época, além de colocar em cheque a facilidade que o ser humano têm em se adaptar a certas situações. 

Durante toda a leitura do livro meus sentimentos ficaram divididos, apesar de apreciar em demasia Sci-fi e esse ter sido um dos motivos que me levou a adquirir a obra, senti falta de uma explicação mais profunda, ou até mesmo uma posição rasa sobre o porquê das viagens da protagonista, já que as mesmas começam do nada e vão acontecendo sem previsão ou explicação prévia.

Em contra partida a personagem vai sozinha juntando as peças do quebra-cabeça e se arriscando a descobrir o porquê de estar ali. Mas enquanto essas peças não se encaixam Diana vai sendo tratada como os negros de sua época, e confundida com os escravos da fazenda de Rufus é obrigada a se ocultar para passar despercebida e quem sabe assim sobreviver até que Rufus esteja em segurança. 

Em uma das viagens Dana acaba levando seu marido consigo, e é nesse momento que a autora deixa claro, como se torna fácil para uma pessoa que não é diretamente afetada por uma situação, se adaptar com ela. Kevin é branco e escritor, e aos seus olhos, muitos dos acontecimentos ou atitudes tomadas dentro da época são justificáveis, o que para Dana se torna uma afronta.


Todas as lutas são, essencialmente, lutas sobre poder.


O livro é muito bom e o enredo é digno de ser um clássico, mas confesso que a protagonista mais me irritou do que me encantou. Rufus é a escória da Terra, um homem branco e mimado que se criança ja era um entojo, adulto ficou ainda pior. Nenhuma atitude de Dana para salvar a vida dele foi vista com gratidão, e quanto mais Dana o salvava mais ele se sentia dono dela, mentia e a ludibriava para mantê-la mais tempo por perto e longe de Kevin, além do fato de mesmo sendo um dos poucos a saber do seu segredo ser entre eles o mais cruel com a moça, e ainda sim ela o salvava. Se dependesse de mim a geração teria sido mandada ao inferno e ele teria morrido logo nas primeiras.

Enfim Kindred são não leva 5 estrelas pelas lacunas que ficaram em aberto no decorrer da leitura, mas ainda sim como já disse e repito, o livro é incrível para a sua época, não é a toa que faz tanto sucesso na nossa época e que levou Octvia a ficar conhecida como a mãe da Ficção Cientifica.

Com uma narrativa de fácil compreensão e de leveza surpreendente ara o tema, a autora nos leva em uma viagem ao tempo onde o bom senso e o amor ao próximo é colocado em teste a todo momento, uma época em que a cor valia muito mais que o caráter. Se você curte viagens no tempo e livros que retratam períodos históricos, se aventure nas páginas de Kindred e venha conhecer essa autora que já domina minha estante e que tem muito para falar mesmo depois de já silenciada pelo tempo.


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