Precisamos de Novos Nomes || NoViolet

Precisamos de Novos Nomes || Ficção . Romance , Drama || NoViolet Bulawayo || 254 || 2014 || Biblioteca Azul 

Sinopse:
Essas crianças a cada dia tentam fugir de Paraíso, o aglomerado de barracos de zinco onde elas e suas famílias vivem desde que suas antigas casas foram demolidas violentamente a mando do governo. As fugas são para perto, para Budapeste, o bairro vizinho onde roubam as goiabas do quintal das casas das famílias brancas e ricas, ou ainda com as brincadeiras que criam para se distrair do cotidiano entediante sem escola nem comida: fingem procurar Bin Laden para ganhar a recompensa do governo americano; criam um jogo em que os países mais poderosos invadem os países menores. As fugas acontecem também quando sentem um misto de vergonha e empolgação ao se aglomerarem ao redor dos carros das ongs que lhes trazem presentes e roupas inadequadas.
Mas é a vida de Darling, a protagonista-narradora, que o romance acompanha. A menina de dez anos que conhecemos em suas brincadeiras no Paraíso, sonha com o dia em que morará na América. Esse dia finalmente chega e Darling terá de enfrentar o frio, a saudade de sua família e de seus amigos e a adaptação nesse país que nunca vai se tornar o seu país de fato, mas que mudará seu sotaque, moldará o olhar do mundo e a afastará, irremediavelmente, de sua terra natal.


Em Precisamos de novos nomes vamos conhecer e acompanhar Darling, uma criança de 11 anos que nos apresenta sua vida, seus amigos e o país onde mora através dos seus olhos. Darling é uma criança muito esperta que mora em Paraíso, uma periferia localizada no Zimbábue, apesar de amar o lugar onde mora, nossa protagonista sonha com o dia em que irá morar com a sua tia nos EUA, ela acredita que tudo será melhor quando se mudar, e enquanto isso curte seus amigos roubando goiabas e fazendo outras brincadeiras nos bairros ricos da cidade.

Durante a narrativa, mesmo que leve, se torna impossível não notar pequenos detalhes que representam a crueldade e miséria em que essas crianças vivem, seja na indignação delas ao receber doações de Ongs que não fazem o maior sentido, ou na gestação precoce de Chipo, a amiga de Darling que apesar de possuir a mesma idade, já está grávida e daquele que deveria protegê-la.

É através dos olhos e das brincadeiras de Darling e seus amigos que vamos conhecer a realidade das pessoas carentes de Zimbábue.  É triste ver como coisas as mazelas sociais são apresentadas nas brincadeiras das crianças, e como a violência é abordada de forma natural, seja na brincadeira dos países onde as grandes potências são enaltecidas e os países pobres são relegados, ou quando as crianças decidem colocar em prática o que viram na televisão para ajudar Chipo a fazer um aborto e assim poder brincar sem o peso da barriga.

Depois de uma infância conturbada, Darling finalmente se muda para os EUA, e lá terá que aprender uma nova cultura, e será mudada pelo povo a sua volta de uma forma inimaginável, mas ainda sim, lá não é seu lar e nunca será sua terra, não importa o que ela faça ou quanto tempo passe ali.

Precisamos de Novos nomes é livro intenso e visceral, trata de assuntos pesados como miséria, abuso infantil, drogas entre outros. Tudo isso é visualizado pelas crianças de forma simples e comum, e a dor maior é saber que é simples porque ele vivenciam isso todo dia, uma criança roubar para comer é normal e dependendo da sua situação divertido. Uma menina de 11 anos grávida do pai é comum, mas um fardo porque ela já não é mais tão ágil nas brincadeiras. Abandonar seu país, sua casa e sua cultura é comum que quiserem algum futuro.

Olhe para os Filhos da terra indo embora aos bandos, deixando sua terra com feridas que sangram em seus corpos e susto em seus rostos e sangue em seus corações e fome em seus estômagos e tristeza em seus passos. Deixando suas mães e pais e filhos para trás, deixando seus cordões umbilicais debaixo do solo, deixando os ossos de seus antepassados na terra, deixando tudo o que os torna quem e o que eles são, indo embora, pois não é mais possível ficar. Eles nunca mais serão os mesmos, porque você simplesmente não tem como ser o mesmo depois que deixa para trás quem ou o que você é, você simplesmente não tem como ser o mesmo.

Apesar do livro ser narrado por uma criança, e sua inocência dar um ar de leveza a crueldade, é impossível não se sentir tocada por sua história. Não querer mudar o mundo, mudar o homem.

Esse é o livro de estréia da autora NoViolet Bulawayio, e já de cara nos apresenta uma narrativa pesada, mas de fácil absorvição que não vem para enfeitar os dias, mas para mostrar a realidade dos desafortunados que pouco são citados ou notados no mundo.

Precisamos de novos nomes é um romance de formação, conheceremos e acompanharemos a vida de Darling da sua infância a maior idade, a obra está dividida em duas partes, a primeira sua infância vivida no Zimbáue, e a segunda depois que Darling se muda para os EUA.

Se você é do tipo que curte uma leitura intensa e sincera, que não maquia a realidade do mundo, mas apresenta ao leitor as nunces de outros lugares, com certeza vai gostar da obra. E apesar dos momentos tristes e das cenas intensas, super recomendo a leitura. Leia e desperte o seu lado humano.


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