O Sol é Para Todos || Drama , Ficção , Romance , Crime , Clássicos || Harper Lee || 364 || 2015 || José Olympio
Sinopse:
Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.O sol é para todos, com seu texto “forte, melodramático, sutil, cômico” (The New Yorker) se tornou um clássico para todas as idades e gerações.
É vergonhoso admitir, mas esse livro permaneceu por alguns anos na minha estante esperando uma brechina na enorme agenda de leituras que parecia nunca ter fim, e que ainda não tem, mas possui um controle maior e um aproveitamento 100% de cada livro lido, então talvez o certo fosse realmente esperar para poder apreciar a leitura com tudo que ela tem de melhor para oferecer.
Scoutt têm 8 anos e mora em uma cidadezinha no interior do Alabama, onde o fato mais impressionante é o vizinho que nunca sai de casa. Filha de Atticus Finch, um advogado dessa pequena cidade, será através dos olhos dela e sua narrativa que acompanharemos todos os acontecimentos da história.
Atticus Finch é viúvo e resolveu criar seus filhos fora dos padrões impostos pela sociedade, sendo assim, Scoutt vive dentro de um macacão ao invés de um vestido correndo pela terra e tocando o terror com seu irmão Jim. Isso por si só já seria suficiente para que Atticus fosse julgado por seus vizinhos, mas quando ele é indicado pelo tribunal para defender um negro de uma acusação de agressão e estupro as coisas ficam pior, pois Atticus tem certeza de que o homem é inocente e vai lutar com tudo que puder para defendê-lo, mesmo que isso lhe cause problemas extremos.
Os acontecimentos desse julgamento se arrastam por três anos, e vamos acompanhar as alterações nos ânimos através dos olhos de Scoutt, que apesar de não conseguir entender no inicio qual o problema do seu pai defender um homem de cor, vai aos poucos amadurecendo e enxergando os acontecimentos com outros olhos.
Só existe um tipo de gente: pessoas.
Atticus é um exemplo de ser humano em todos os aspectos, não só como pai ou pessoa, mas como advogado. Todos os diálogos dele com os filhos são repletos de lições de moral e cidadania, e mesmo para um livro escrito e publicado em 1960, suas palavras servem a nossa sociedade atual, o que me faz pensar que em nada evoluímos. Independente das consequências que terá que enfrentar, Atticus está disposto a defender o homem com todas as suas armas e fazer o impossível para deixá-lo em liberdade, até mesmo expor seus filhos a julgamentos preconceituosos e ficar de vigia na porta da cadeia.
A todo momento Scoutt confronta em seus diálogos pessoais e internos os motivos de seu pai ser do dia para a noite tão repugnado pelas pessoas que vivem ao redor, conforme o processo vai correndo, tanto Jem quanto Scoutt são vítimas de piadas racistas e preconceituosas, mas Scoutt tem sangue quente e sempre parte pra ignorância, ela não admite que seu pai sendo o homem que é seja ofendido.
Conforme a narrativa vai acontecendo, é possível notar o amadurecimento de Scoutt e seu irmão, a forma como aos poucos as peraltices vão deixando de ter graça, as ofensas vão sendo compreendidas e os acontecimentos vão tomando outro grau de percepção. A descrição da autora dos acontecimentos é visceral, e a mágica do livro está em acompanhar tudo através dos olhos de uma criança que não entende porquê um negro não pode ser defendido em uma época em que negros não eram consideradas pessoas.
A gente só conhece uma pessoa de verdade quando se coloca no lugar dela e fica lá um tempo.
Escrito na década de 60, Harper se utiliza de uma sacada genial para criticar tanto a época quanto os costumes, se utilizando de uma linguagem inocente e infantil ela leva o leitor a analisar sua época, sua história e seus arredores. Ler um clássico assusta, e muitas vezes o peso da palavra clássico é suficiente para nos fazer desistir da leitura, O Sol é para Todos é um clássico, porém sua narrativa é leve e de fácil compreensão, que assusta não pelas palavras, mas pela realidade implícita nos acontecimentos, e a súbita noção de que no final não evoluímos tanto assim.
Um livro incrível e tocante, com uma lição de vida e moral de peso. O sol é para todos é um livro que nunca perderá o pedestal, e que eu gostaria muito que se tornasse um tema obsoleto e a muito esquecido.
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